"Se a pós-graduação brasileira não incluir os cidadãos despossuídos, teremos falhado como pesquisadores e como sociedade", afirma palestrante

Publicada em 09/08/2023

Membro da comissão que elabora o Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2021-2030 e docente titular do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), professor Lucindo José Quintans Junior, proferiu nesta quarta, 9, a palestra de abertura do II Simpósio de Pós-Graduação da UFSJ. Sua apresentação tratou do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG): do cenário atual às perspectivas para o próximo decênio.

Assimetria
Conjugando informações sobre o Plano e opiniões pessoais, Quintans Junior iniciou sua palestra ressaltando a premência das discussões do plano, no sentido de adequá-lo à realidade do setor no país, e enumerou as fragilidades da pós-graduação brasileira que, segundo ele, são: a assimetria de crescimento da pós entre os estados e regiões, a inexistência de mecanismos que garantam um melhor fomento aos cursos em fase de consolidação, a baixa fixação de doutores que gera a evasão desses pesquisadores e o baixo financiamento, como, por exemplo, bolsas muito abaixo do mínimo necessário para garantir a sobrevivência do pesquisador enquanto se dedica aos seus projetos científicos.

Ainda na perspectiva das fragilidades do sistema, o professor da UFS comentou sobre a avaliação quadrienal da Capes que, para ele, precisa mudar o modelo atual, o qual, entre outras incongruências, não leva em consideração as diferenças regionais. A falta de estabilidade na direção das áreas de Educação, Ciência e Tecnologia nos últimos governos que levou a pesquisa brasileira a decrescer 7%, bem como os desestímulos e ataques à carreira de pesquisador também foram enumeradas como fragilidades do sistema de pós-graduação.

Plano Nacional
Falando sobre o PNPG, no qual faz parte de um dos oito grupos de trabalhos temáticos, Lucindo defendeu que o Plano deve estar, pari passu, com a sociedade e as transformações advindas das novas tecnologias. “A carreira mudou, a pós-graduação mudou e vamos ter de mudar também”, afirmou. Na visão dele, as novas habilidades e competências surgidas nos últimos anos e a relação dos pesquisadores com as editoras científicas devem ser temas fundamentais na discussão do Plano Nacional.

Quintans Junior apresentou os principais desafios ou discussões do novo documento: o futuro da pós-graduação, o financiamento da ciência, as demandas sociais, o ensino híbrido, o perfil do egresso, as assimetrias regionais e o futuro da produção científica. Como bom nordestino, o palestrante utilizou uma frase do escritor Ariano Suassuna para encerrar sua apresentação. “O que é muito difícil é você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.”

Mesa de abertura
Antes da palestra do professor Quintaes Junior, a mesa de abertura do II Simpósio de Pós-Graduação da UFSJ apresentou as falas de boas-vindas e agradecimentos do reitor Marcelo Andrade, do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e coordenador-geral do evento, professor André de Oliveira Baldoni, e do pró-reitor adjunto, professor Afonso Alencastro da Graça Filho.