"INcerto tempo": professor da UFSJ expõe gravura em mostra paulista

Publicada em 14/09/2023

O professor do Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas da UFSJ (DAUAP), Ricardo Coelho, é um dos artistas selecionados para a exposição Gravura em Foco – um recorte da coleção do Gabinete de Estampas da Unicamp. A mostra prossegue até 1º de dezembro, na Casa da Boia, estabelecimento comercial construído em 1898 que abriga um espaço cultural no centro histórico de São Paulo.

O Gabinete de Estampas da Unicamp possui um acervo de mais de três mil obras. Estarão expostas cerca de 50 trabalhos de artistas representativos da gravura brasileira, e que utilizam técnicas em metal. O curador Sergio Niculitcheff, explica que foi feito um recorte que pudesse reunir a produção de várias gerações de artistas gravadores ou que fazem uso dessa linguagem, desde os renomados e estabelecidos no panorama artístico até gerações intermediárias e os mais jovens, que estão produzindo gravuras em metal atualmente.

Para Ricardo Coelho, a exposição é uma realização especial em sua carreira profissional. “Estarei expondo ao lado de alguns dos maiores nomes da gravura brasileira, como Darel Valença, Lygia Eluf, Maria Bonomi, Renina Katz, Arthur Piza, Claudio Mubarac, George Gutlich, Marco Buti, Norma Mobilon, Marcelo Grassmann e Evandro Carlos Jardim. Com esses dois últimos artistas tive o privilégio de estudar gravura em locais e ocasiões distintas.”

Incisão direta
O artista conta que o curador da exposição foi seu orientador em pós-doutorado, realizado no Instituto de Artes da Unicamp. Na ocasião, presenteou Niculitcheff com duas gravuras de sua autoria. “Ele resolveu doá-las para o acervo do Gabinete de Estampas da Unicamp. A escolha de uma das minhas obras para compor a exposição foi uma grande surpresa”, acrescenta.

A gravura escolhida, INcerto tempo, foi produzida em 2002, através da técnica incisão direta: ponta seca, berceau e rolete. Nessa técnica, conta o professor, usamos uma placa fina de cobre, polida até que fique como um espelho, a ponto de refletir imagens. Pontas muito afiadas arranham a placa diretamente. Os instrumentos usados são o berceau, que com um cabo faz o movimento de berço, em balanço para a direita e a esquerda, e o rolete: seus dentes deixam marcas com características bem específicas. Essa gravação recebe tinta, e o excesso é retirado por meio de papel úmido, 100% algodão, que em seguida é prensado numa pressão muito intensa. Esse papel retira apenas a tinta que ficou nos sulcos produzidos, tornando o processo bastante artesanal.

A personagem impressa na gravura é uma interpretação gráfica a partir de uma imagem que foi feita por Ricardo em papel fotográfico, no ano de 1999, quando trabalhava em oficinas de arte no Sesc Pompéia, em São Paulo. “Era uma senhora que jogava baralho animadamente. Ela estava se divertindo, jogando com outras senhoras e eu fiz o registro fotográfico. Não sei quem ela é, mas sempre gostei dessa imagem pela sua dimensão psicológica. O título tem essa dimensão dentro do tempo: o que ela olha, o que a mantém tão concentrada?”, relembra.