A paz é o colo de uma mulher negra

Publicada em 20/11/2022

A paz é o colo de uma mulher negra.

Um amor que resiste ao tempo e às estatísticas, um cuidar que necessita de cuidado. Um corpo atravessado de história, circunscrito por dores, mas reescrito todos os dias pela pela fé, pelo brilho de Oxum e pela sabedoria dos ancestrais. Nesse Dia da Consciência Negra, gostaria de não reafirmar a resistência a nós mulheres negras, e nem tampouco ao nosso povo; afinal, não é pela vida que deveríamos estar reivindicando, nem pela segurança, nem pelo afeto, nem pela ausência de preconceito, não fomos nós que o construímos. Algumas coisas não deveriam ser conquistadas, nem tão pouco marcadas por gritos, sangue e suor.

Nesse Dia, não queremos carregar o peso da reivindicação, mas sim, enfatizar que essas cicatrizes históricas e políticas têm um nome, uma cor e uma classe, à qual não pertencemos. Que nós mulheres negras e que o nosso povo não permitamos que a injustiça, a desigualdade e o desafeto nos definam. Que transformemos nossas angústias em superação, construindo um mundo carregado de axé, onde haja paz e espaço para todas as existências.

A paz é o colo de uma mulher negra, e é neste colo que desejo morar.

Eu, Natália Santos, mulher negra, poetisa e graduanda em Psicologia, na Universidade Federal de São João del-Rei. Tive um percurso de dificuldades mas também de surpresas muito positivas. Nesse processo fui me descobrindo e reescrevendo minha história, a partir de um novo olhar. A poesia é pra mim um refúgio, no qual me enxergo em potência e significado. Agradeço ao @tugunaextensao por fazer parte do meu florescimento racial e crescimento pessoal: é um prazer poder florescer em um espaço seguro. A arte é uma morada onde cabem todos os sentimentos. Dentro da Psicologia pude perceber a enorme carência que nossos corpos têm de elaborar os sentimentos – que nós profissionais saibamos também cultivar esses espaços. Gratidão!


Foto: Thais Andressa