Descoberta nova espécie de bromélia; um dos pesquisadores é o Prof. Paulo Gonella

Publicada em 14/03/2023

Paulo Gonella, professor do Campus Sete Lagoas, integra a equipe que recentemente descobriu uma nova espécie de bromélia na Serra do Padre ngelo, em Conselheiro Pena (MG), município do Leste mineiro. Ecossistemas Rupícolas da Mata Atlântica, desenvolvido pelo INMA, é o projeto que reúne, além do pesquisador da UFSJ, os professores Dayvid Couto, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), e Andrea Costa, do Museu Nacional (MN-UFRJ).

A nova espécie, denominada Sitgmatodon enigmaticus, pertence a um grupo de bromélias adaptado a viver sobre as rochas da Mata Atlântica, com floração noturna e polinização por morcegos, tendo por isso flores pouco coloridas. A descoberta foi publicada na revista científica Phytotaxa.

Preservação
Segundo o pesquisador da UFSJ, a descoberta de novas espécies deve ser sempre encarada como uma ferramenta importantíssima de conservação. “A gente só conserva, só desenha estratégias para proteger aquilo que conhecemos”, afirma.

De acordo com Paulo Gonella, apesar de catalogada recentemente, a planta foi avaliada como “criticamente em risco de extinção”, o nível mais alto que existe. “Ela tem uma população muito pequena e sofre diversas ameaças, principalmente o fogo, que é usado pelos moradores ao redor da Serra do Padre ngelo para renovação de pastos, e também de espécies invasoras, que acabam se alastrando pelos espaços naturais e sufocando as plantas nativas”, explica o professor, para quem a criação de uma Unidade de Conservação auxiliaria na proteção da S. enigmaticus.

Flores vistosas
O professor Paulo Gonella destaca que a planta pertence ao gênero Stigmatodon e recebeu o nome enigmaticus por carregar características de dois gêneros botânicos. “As características que ela possui não são muito peculiares do gênero Stigmatodon, com as brácteas e as flores bem vistosas. Esse gênero tem flores pouco chamativas, geralmente de cor branca ou creme, que se abrem à noite e são normalmente polinizadas por morcegos. A enigmaticus, com suas flores atraentes, é típica da polinização por beija-flores, o que foge à regra do gênero.”

Além de supervisionar o projeto do INMA, Paulo trabalha em outra iniciativa da UFSJ, financiada pela Fapemig, que desvenda a flora da Serra do Padre ngelo. Com apoio de três bolsistas de Iniciação Científica, o propósito é identificar as plantas da região com vistas à conservação da área que, para ele, é muito especial, por conter campos rupestres e florestas ainda não protegidos por lei.

Nomear oficialmente a “bromélia enigmática”, como está sendo chamada popularmente, é importante para a sua conservação. “Agora podemos fazer investigações sobre a evolução, sua aplicação na medicina, por exemplo, e também em diversas estratégias para evitar seu desaparecimento”, defende.

Campos rupestres
O reconhecimento da nova espécie soma-se a mais de 30 outras espécies publicadas na última década para os campos e florestas das montanhas da região. Ao todo, 26 espécies são consideradas endêmicas – ocorrem exclusivamente nos campos rupestres da Serra do Padre ngelo e em mais nenhum lugar do planeta.

A bromélia-enigmática foi descoberta em afloramentos rochosos quartzíticos (campos rupestres) acima dos 1.200 metros. Assim como outros afloramentos rochosos rodeados pela floresta, a Serra do Padre ngelo funciona como uma ilha terrestre: isolada na paisagem, as espécies que ali ocorrem têm suas populações apartadas umas das outras por um “mar de floresta”. A nova bromélia vive sobre as rochas expostas a pleno sol, misturada com a vegetação campestre, típica daqueles campos. “A descoberta revela a importância dos estudos básicos sobre a biodiversidade nessas ilhas terrestres da América do Sul”, ressalta Dayvid Couto (INMA).

Ambientes assim (afloramentos rochosos e o cume de montanhas elevadas), são isolados como as ilhas oceânicas, e representam igualmente importantes modelos usados pelos cientistas para testar hipóteses evolutivas. Dentre as ilhas terrestres, merecem destaque os campos rupestres, formados por afloramentos de rochas quartzíticas e areníticas, que são comuns nas paisagens da Serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia. Os campos rupestres são isolados na paisagem e abrigam uma flora muito peculiar e adaptada às condições restritivas desses ambientes – baixa disponibilidade hídrica, presença de solos rasos e com baixa fertilidade, elevada amplitude térmica entre o dia (quente) e a noite (frio), entre outras características.